Todos aqui já devem ter ouvido falar de atividade aeróbica, e que isso normalmente está associado ao ato de correr, pedalar, nadar. Vocês também já devem ter ouvido o termo anaeróbico, geralmente vinculado ao exercício intenso como sprints ou a musculação tradicional.
Então, isso não está completamente errado… mas também não é perfeitamente correto. Vamos tentar facilitar as coisas e o entendimento para vocês.
O que fazem os sistemas energéticos?
A contração muscular acontece porque um impulso elétrico deixa o córtex motor e segue até os músculos responsáveis em realizar a atividade. Lá na fibra muscular, esse impulso gera uma reação química que provoca a quebra do ATP, um fosfato rico em energia. Essa energia é fundamental para que a contração ocorra.
O problema é que não possuímos grandes quantidades de ATP, já que essa quantidade de energia na molécula (que não é pouca), deixa ela com grande peso molecular.
Desse modo, é mais fácil renovar o ATP de forma simultânea à sua utilização. Você vai refazendo o ATP em um ponto a medida que você o consome em outro. Assim você nunca ocupa muito espaço com um estoque exagerado da molécula.
E basicamente é isso que os sistemas energéticos fazem: vão renovando o ATP a medida que o músculo os consome para que a contração possa acontecer.
Quais as diferenças entre os sistemas energéticos?
Existem 3 diferenças fundamentais entre os sistemas de renovação do ATP: as moléculas envolvidas, a velocidade da reação e o tempo que cada sistema pode se manter fazendo isso.
O sistema anaeróbico alático, ou o ATP-PC, já que renova o ATP a partir da quebra do PC (fosfato de creatina) é o mais veloz de todos. Em um único segundo é capaz de produzir uma quantidade enorme de ATP. E como ele faz isso? Muito simples, ele quebra outra molécula que também tem energia (PC) e usa esta energia para colar um ADP + P = ATP!
Infelizmente a PC também é pesada, e nossas reservas são muito pequenas. Por isso, o sistema, apesar de veloz, se mantem funcionando bem por poucos segundos. Observe abaixo uma figura que explica bem seu funcionamento. Note que a sustentação de uma grande quantidade de ATP exige a degradação de PC.
Quando a PC se reduz demais, não da mais para manter o ATP em níveis ideais e ele vai reduzindo. Quando o nível do ATP fica muito baixo, o exercício não consegue mais ser sustentado e é interrompido. É o que chamamos de “exaustão”.
Glicose e ácido lático, um sistema mal interpretado
O primeiro sistema é muito útil em atividades bem curtas e intensas, como levantar um peso, subir rápido um lance de escadas ou arremessar um objeto. O problema é que algumas tarefas que realizamos duram períodos mais prolongados de tempo, alguns vários minutos.
Quando a exigência é por uma produção de energia por um tempo mais prolongado, um outro sistema acaba sendo fundamental, o glicolítico. Essa via produz energia a partir da quebra da glicose, o carboidrato mais abundante do nosso corpo. Isso gera energia por mais tempo, ainda sem a necessidade do oxigênio.
Ao final desse metabolismo a molécula de glicose foi capaz de gerar ATP e se transformou em ácido pirúvico. O ácido pirúvico não pode ser acumulado em grandes quantidades dentro da célula, e é levada até a mitocôndria para dar início ao terceiro tipo de metabolismo, o aeróbico. Parte ainda pode ser convertido em piruvato, e ficar na célula e ser re-convertido em ácido pirúvico em outro momento.
Porém, se não existe oxigênio suficiente, não dá pra fazer o caminho ideal, que é levar o ácido pirúvico até a mitocôndria e gerar energia aeróbica. A solução? Se livrar de parte dessas moléculas, jogando-as no sangue, e transformando isso em lactato (não, não é ácido lático… não dá pra acumular isso no sangue).
Sendo assim, o início do acúmulo de lactato no sangue passa a ser um indicador de que o metabolismo anaeróbico do glicogênio ultrapassou a capacidade do organismo de suprir a demanda de oxigênio da célula. É uma forma de verificar a capacidade aeróbica do sujeito.
Chamamos esse ponto de primeiro limiar de lactato, ou limiar aeróbico.
Se o indivíduo continuar insistindo na atividade, com cada vez mais intensidade, o acúmulo deixa de ser linear, e começa a ser exponencial. Isso acontece porque o estresse metabólico causado por esses acúmulos começa a “atrapalhar” a vida dentro da célula, e o metabolismo aeróbico deixa de ser eficiente.
Nessa situação verificamos um acúmulo muito rápido de lactato no sangue, resultado do “desespero” da célula em se livrar de uma quantidade de ácido pirúvico cada vez maior. Esse ponto é o segundo limiar de lactato, ou limiar anaeróbico.
No desenho abaixo fica fácil de entender. Nele, estão identificados o limiar aeróbico (aerobic threshold – AET) e o limiar anaeróbico (anaerobic threshold – LT).
Finalizando a ideia, o metabolismo aeróbico
Entretanto, em condições onde a intensidade não é tão alta e o oxigênio disponível é suficiente para manter a produção de energia, o metabolismo predominante é o aeróbico.
Na verdade, somos serem predominantemente aeróbicos. Mais de 90% de toda a nossa vida é sustentada por esse tipo de metabolismo energético.
O metabolismo aeróbico é o mais eficiente de todos, apesar de ser o mais lento na produção de energia. Por isso as atividades de característica aeróbica não podem ser realizadas em intensidade próximas às máximas possíveis.
No final desse metabolismo o que resta é a energia (ATP), dióxido de carbono (CO2, que você expira) e água.
E agora, como usar isso a nosso favor, principalmente na prescrição do exercício?
Grande abraço